sábado, 13 de fevereiro de 2010

NO BREJO DO ROSPO - 5

O SAPO E O CORAÇÃO
Estão os três amigos numa festa, quando o Rospo faz uma declaração inesperada.
- Sapabela, eu a amo do fundo do meu coração!
- Rospo, que surpresa!
- Está errado, Rospo.
- O que está errado, Doutor Aparecido Palestra ?
- Dizer que ama alguém do fundo do coração, pois a gente ama com o cérebro. O coração é apenas um músculo. É com o cérebro que a gente sente...
Como a Sapabela demonstra ter ficado impressionada com a intervenção do amigo cientista, o Sapo decide enfrentar a argumentação.
- Errado nada, meu caro Doutor, as palavras nascem em universos específicos. Nascido no trovadorismo, o “amor que vem do coração”, tornou-se um símbolo universal aceito por todos os povos e épocas.
- Que interessante, Rospo...
- Tem a ver com o pulsar da vida, Sapa.
- Fale mais.
- O coração, para a ciência, é apenas um órgão, mas no universo literário & poético é o símbolo universal do amor. Seria esquisito se o romantismo tivesse escolhido outro órgão. Creio que não soaria bem alguém dizer que ama alguém do fundo dos seus rins ou do fundo do seu fígado.
- Ou do fundo do seu cérebro!- arremata a Sapabela.
- E então, meu caro doutor Aparecido Palestra, satisfeito?
- Você tem razão, meu jovem amigo, eu sou especialista no universo cientifico, mas desconheço os motivos do universo poético.
- Mas eu fiquei curiosa com uma coisa, Rospo...
- O que foi, Sapabela?
- Que história é essa de “amo você do fundo do meu coração!”?
- É...bem...er..hã...
- Explique, meu amigo, a palavra é toda sua.
- O coração está pulsando muito rápido, Doutor...
- Eis um momento em que os dois universos se cruzam.



MARCIANO VASQUES
Ilustração: Daniela Alves Vasques

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