sábado, 13 de fevereiro de 2010

NO BREJO DO ROSPO - 7

A CRIATURA E A LETRA


- Ela é muito importante. Aliás, é a coisa mais importante em qualquer língua.

- Quem é ela, meu querido? – pergunta a pequena rã para o Ser que mora entre as flores. Uma criatura que só pode ser vista por uma criança, pois assume sua forma somente quando está diante de um coração puro.

- Veja se adivinha, pequenina rã. Uma escada vira espada que vira empada. Uma esmola vira escola que vira escova. Uma pomada vira uma tomada ...

- Continue, meu amiguinho...

- Um castelo vira uma costela. Uma janela vira uma panela. Canela vira caneta que pode virar boneca ou soneca. Assim como uma rosa vira uma roda e pato vira um prato que pode virar um pranto que pode virar uma planta que pode virar um planeta, tal como uma fita vira fila que pode virar uma figa ou um figo ou uma faca vira foca que vira toca como fada vira fado que pode virar fato que vira mato e um sapo vira saco como a égua vira água...

- Já sei, já sei, já sei!!! É a letra! Uma única letra muda uma palavra inteira, mas me diga agora, qual é o seu nome?

Como se aproximavam alguns Sapos adultos, a maravilhosa criatura desapareceu...

- Olá, rãzinha! Conversando com o jardim?

- É, titio. É... Com as flores talvez...- responde a pequena enquanto continua pensando:

- “Qual será o seu nome? Ah, se alguma criança soubesse!”

MARCIANO VASQUES
Ilustração: Daniela Alves Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário