domingo, 21 de fevereiro de 2010

AS ESTRELAS E A CATACRESE

AS ESTRELAS E A CATACRESE



Sapabela e seu amigo conversam num sarau.

- Rospo, você tem que falar de coisas bonitas sempre.

- Por que, Sapa?

- Por causa da catacrese.

- Catacrese? Isso é um tipo especial de metáfora, que foi incorporada pela língua, mas... explique, querida, por favor. O que tem a ver a tal catacrese em nossa história?

- Ora, por causa do céu da boca.

- Entendi, mesa não tem pé, chaleira não tem bico nem asa, rio não tem braço. Boca também não tem céu, é a mesma coisa que dizer “embarcar num avião ou num trem”, então trata - se de uma catacrese, mas, o que tem isso a ver? Por que tenho que falar coisas bonitas sempre?

- Caríssimo amigo: as estrelas do céu da boca são as suas palavras, as coisas que você diz...

- Compreendo, o céu da boca não é estrelado, então posso pôr estrelas nele cada vez que falar... Mas nem sempre o clima está propício para se falar “estrelas”.

- Nunca se esqueça de que um céu nublado apenas causa uma ilusão de ótica...

- Ilusão de ótica?

- É! Você olha e não vê as estrelas e então pensa que elas não estão lá.

- Certo, mesmo com tempo ruim, devemos salpicar estrelas em nosso céu da boca.

MARCIANO VASQUES
No Brejo do Rospo 
Ilustração: Daniela Alves Vasques

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