quinta-feira, 15 de julho de 2010

ROSPO E O MONSTRO

 
Rospo surge apavorado.
- O que foi que aconteceu, Rospo?
- Eu vi, Sapabela, eu vi! A mais terrível das criaturas.
- Você está tremendo. Fale, meu amigo. Calma!
- Jorrava sangue pelos olhos, babava, olhar ameaçador, dentes pontiagudos, garras medonhas...
- É um monstro.
- Sim, o pior que poderia existir. Nojento, repugnante, asqueroso...
- Onde você encontrou essa criatura nefasta?
- Na praça. Vi uma criança abandonada, pedindo esmola, e uma outra adormecida num banco.
- Não entendi. E o monstro horrível?
- As pessoas passavam e nem se importavam com elas, fingiam que não estavam vendo...
- Compreendi. Você viu o monstro da indiferença.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 8

Marciano Vasques
 
 


SAPABELA E A DIVERSÃO

 
- Rospo, continuo na minha incansável busca da felicidade.
- Quer jogar xadrez, Sapabela?
- Não procuro diversão. Busco a felicidade.
- Vamos ao cinema? Quer jogar boliche?
- Não, Rospo, não...
- Ao baile?
- Rospo, tente entender: eu procuro a felicidade.
- Você já sabe onde encontrá-la, Sapabela...
- Pois é, meu caro amigo, enquanto não a tiver dentro de mim, as coisas que você falou não passarão de apenas diversão...
- Eu entendo, eu entendo...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 7

Marciano Vasques

O CORCEL ALADO

 
- Criaturas fantásticas não existem. São apenas frutos  da imaginação. Um corcel alado, por exemplo, jamais existiu....
- Engano seu!
- Pois bem, Sapabela, diga...
- Existe um corcel alado, sim!
- E onde ele vive?
- Em cada sapo, quando ele é criança.
- Está falando da imaginação?
- Sim, meu caro Rospo, mas, como acertou tão rápido?
- É a minha "porção Sapabela".
- É isso mesmo! Só a imaginação de um sapinho ou de uma pequena rã é capaz de galopar nas alturas, acima das nuvens.
- Então, viva o corcel alado!
- Viva! E que ele seja protegido por todos os adultos.
 
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 6
Marciano Vasques

A SAPA @

 
Estava o Rospo meditando à beira do lago, ao vivo, pensando no que o fanatismo pode fazer para um sapo, quando chega a amiga Sapabela, com uma nova sapa.
- Rospo, que faz aí tão sozinho?
- Contemplo a natureza, e me ponho a cismar, alguns pensamentos sem rumo, só por distração.
- Apresento  a minha amiga Sapa @ , a nova moradora da Sapolândia.
- @? Que nome original...
- Ela é louca por Internet.
- Viciou?
- Qual o seu nome mesmo? Pergunta a nova Sapa, para Sapabela.
- Sapabela.
- Bonito nome, não esqueço mais: WWW. Sapabela.
- WWW?
- "É maluca!" - Pensa o Rospo.
- E o seu nome?
- Rospo.
- Prazer, Senhor Rospo.com
- Rospo. com?
- Bem, vamos indo. Preciso mostrar a Sapolândia para a @
- Apareça sempre que quiser conversar, minha querida.
- Sim, senhor Rospo. com. Farei isso, mas, qual é mesmo a senha?
- "Senha?"
As duas continuam o passeio.
-Que internauta atencioso o seu amigo...
- Internauta? Ele estava apenas contemplando o lago...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 5


O SAPO RICO

 
Casualmente, naturalmente, um novo encontro:
- Estou rico, Sapabela!
- Rico? Mas, você não tem nada, Rospo!
- Não exagere, Sapabela.
A provocativa amiga prossegue:
- Você não tem nem um celular novo!
- Mas, estou rico, minha amiga.
- Onde está essa riqueza, afinal?
- É riqueza para quem quer ver.
- Eu quero!
- Hoje, ao amanhecer, criei um poema. Poetizei.
- Um poema?
- Sim, depois de terminá-lo, percebi o quanto fiquei rico.
- "Tem razão: é riqueza para quem quer ver"

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 4
Marciano Vasques


A DECISÃO DA SAPABELA

 
Uma decisão tomou Sapabela:
- Vou procurar a felicidade, Rospo.
- Bravo!
- Subirei as mais altas montanhas, atravessarei cordilheiras, vales...
- Inútil, Sapa, inútil..
- Irei aos estádios de futebol.
- Não adianta...
- Cinemas, parques de diversão.
- Bobagem, Sapa...
- Ganhar muito dinheiro...
- Piorou.
-Viajar em luxuosos cruzeiros, velejar, banquetes...
- Esqueça.
- Assim não dá, Rospo! Vive a me desanimar...Se quero buscar a felicidade, devo ir aos mais distantes lugares, aos mais divertidos...
- Engano, puro engano, minha querida.
- Melhor explicar, Rospo...
- É pra já: Não adianta rodar o mundo, pois a felicidade está mais próxima do que imagina, Sapabela.
- Onde?
- No lugar de mais difícil acesso: dentro de você.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 3

Marciano Vasques

LIVROS E CONVERSAS

Entre rosas, rezas e rasos risos, passeia Sapabela, quando encontra ele e é invadida por um sorridente pensamento:
- "Viva! Lá vem conversa boa!"
- Rospo, qual é o maior concorrente do livro?
- Sapa, o livro não tem concorrentes.

- Um concorrente amigável, vá, Rospo!
- Uma parceira, eu diria.
- Sim?
- A conversa.

- Ela é tão preciosa assim?
- Rara joia da humanidade, assim como o livro.

- Vamos então conversar um pouco, Rospo?
- É o que mais adoro fazer, depois de ler um bom livro. E com você, conversa é música.

Alguém já viu uma sapa vermelha de tão encabulada?

 Histórias do Rospo 2010 - 2
Marciano Vasques

A FELICIDADE DA SAPABELA

 
- Rospo! Estou tão feliz!
- Já sei! Ganhou um celular!
- Não, Rospo, não.
- Vai casar?
- Não, Rospo, é outra coisa...
- Arrumou um namorado?
- Não!
- Comprou um carro?
- Rospo, é algo maior. Não consegue pensar além?
- Estava brincando, Sapabela. Qual é o motivo da felicidade?
- Escrevi um poema. Criei um poema. Poetizei.
- Ah, você estava falando de felicidade maior!
- Claro, meu amigo.
- Escrever um poema: realmente é algo que não tem preço.
 
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 1
Marciano Vasques